UM BRINDE A BOGART (Os desertos de sempre)
...as reticências das minhas frases especulam curvas de vida no dia quando são tangências que percorrem retas inertes rumo ao anoitecer, onde me alimento de espera e ansiedades terrenas e também onde amolo minhas garras para soltar amarras e renascer...
PINÓQUIO DE PANO
A boneca de vestido amarelo, singelo
Enrosca o braço num laço de fita
Se agita no vento com sorriso eterno, dança
Pra criança que aponta o dedo e palpita
A boneca balança um compasso sem tempo
Por um momento se faz feia e sem cor
Semblante de dor carrega tristeza, espia
A lenta agonia de não mais ver seu amor
Na banca em frente um monte de gente
Cerca de afagos um boneco de pano
Que por seus desenganos já não ousa sorrir
Quando mentir para tantos já causou muitos danos
Perdido na sua infinita infância
Como criança que só olha para o céu
Ao Léo não vê a boneca que implora
A qualquer hora por um olhar que é só seu
O vai e vem entre a noite e o dia
Na conversa de vender e comprar
A boneca quer ficar para viver
O boneco quer viver para sonhar
Seus olhares nunca se encontram
Ele não sabe que ela mais quer
Abraçar seu veludo pescoço
Nesse alvoroço ser sua mulher
O sonho se faz entre os corredores da feira
E a boneca faceira terminou mais um dia
Na alegria que abraça a solidão que espera
Por uma quimera de amor que o tecido arrepia
Por um instante instigante se faz elegante,
Vestida esvoaçante de amor parece voar
Quer ir de encontro ao seu sonhado carinho
Mas sabe que é de espinho seu eterno sonhar
Pois o boneco triste sem vontade de sonhos
Só quer mesmo tristonho tentar ser feliz
Está com a alma de menino tisnada,
Arrancada, extirpada sem deixar cicatriz
Ela sabe que ele foi feito de cerne
Menino solto no mundo sem dono
Está só num templo de seres estranhos
Sem alma nada mais é que um Pinóquio de pano
Mas mesmo assim ela ama, oh... ela ama
Sua alma de retalho de pano, inquieta
E ele ama sem ela saber
Sua vontade de não ser mais, uma boneca. Uma boneca...
Há um mundo inteiro para talhar, esculpir
Sob um sol torrente num abajur multicor
A lua deitada numa varanda, de abril
Num baú perfumado de pinho, o amor
Os olhares da festa, serão só estrelas
De tecido florido, as cortinas do tempo
As saudades guardadas num porta jóias
E os amores num cachecol... De vento
Soprarão nos agudos apitos das fábricas,
Uma canção flauteada brincando no ar,
A palavra não será mais uma lei trágica,
Nas caixas de música, a brisa do mar
E na alma um lamento fala em magia
Escondendo a noite num porta retrato
Uma tela pintada cada hora do dia
E o sonho sempre mais... Belo que o fato
E nos sachês teu perfume odoriza
Os colares de crenças que despertam paixão
Na brisa mansa que envolve teu corpo bordado
Um pouco do louco que te sonha com as mãos
E desenha no ar um mundo encantado
De um jeito que só o tempo eterniza
Vela acesa na solidão ruidosa do artista
Que enjaula o tempo num... Amor tatuado
E quando de novo tudo amanhece tristeza
Afiamos navalha da fé no vento que vai
Transformar em amor nossas mudas fraquezas
Em anjos, as bruxas dos eternos quintais
E seremos dois na estátua de bronze
E seremos um no traço de tinta aquarela
Lambuzados na cegueira fina e constante
Que cria e recria a vida... Numa passarela
E eu andarei pelas nuvens
costurando o destino
Catando o rastro que envolve
tudo que você deixou
Nas paredes do mundo
um painel com seu nome
No barco parado na estante
aquele olhar ancorou
Na passarela do tempo ainda desfila
Uma noite que não terminou...
SOLIDÃO DA PRINCESA
...que estranheza, uma aspereza
No véu da princesa, uma incerteza
E junto a vela acesa entre tantas sobre a mesa,
A razão dessa reza:
Uma missiva expressiva, diz adeus taxativa
Não há razão nem ilusão,
Nem sim nem não, um vão, e então
O pranto que é tanto
E enobrece mais o seu encanto, é portanto
Mais nobre, metal ocre,
Véu de céu que sobre a face cobre
Um desgosto de setembro a agosto, um rosto
Uma saudade sem idade,
Pra sempre, um clarão
De imensidão, uma porta que aporta
O tempo, num porto ancorado,
Eternidade.
Na casa que abraça, a brasa consome
Sem nome o tempo que insone
Vai além das paredes, tem sede
Devora, o dia, a hora
Só resta a fresta da dor, intocável
A solidão dilacera sem espera
Inexpugnável, reside suave
Nos corredores do castelo
Entre a vida e a vontade
De vida, é elo... É elo.
(LuizTeixeira 2009)
dos olhares que hoje chamo de saudade
poesiasCAMINHOS DE ONTEM
...meus pés descalços calçavam a lama dos caminhos
e então eu perdia meus sapatos de barro em cada poça...
eu era um príncipe descalço numa infância que inventei,
mas a história sempre acabava bem...
...nas ruas que ficaram no tempo,
um tempo inventado
nas defesas dos castelos onde sempre fui rei
e nas batalhas contra os inimigos alados,
invencíveis eu sei
desenhei nos caminhos da aldeia um novo traçado...
...reinventei a vida a cada dia
e olhando um rio
meu veleiro de imaginação se foi dali ao mar
singrei a imensidão de qualquer universo
naquele navio
timoneiro de sonhos num reino de poeira e luar...
...em minhas mãos as rédeas do tempo
o tempo todo sem dono
em cada manhã uma nova conquista para esse reinado de invento
nas copas das árvores uma casa inquieta
livre de abandono
olhando um conquistador de sonhos nas dobras do vento...
...me fiz homem nesse caminhos infinitos estreitos
feito um arcabouço de quimeras
numa rua de ontem amarelecida nas beiradas da vida
vozes e terços nas romarias que brindam a alegria
quando tudo é primavera
velas que se apagam agora nessa rua esquecida...
(Luiz Teixeira 2007)
INFINITAMENTE
A VIDA
Nas janelas da minha infância
Havia lágrimas, risos, paixão e dor
Havia alma, havia gente
Enquanto a vida tocava em frente
Sem presságios
Sem mágica
Descobri pasmo
Que aquelas janelas lógicas
Eram os olhos da vida me olhando,
Para sempre.
(Luiz Teixeira 2007)
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