sexta-feira, 26 de junho de 2009


"Dos dias em que olhei a vida,
havia uma janela
que não era minha alma,
mas um pouco dela havia
nas imagens saidas da vidraça"


poesias

terça-feira, 23 de junho de 2009


O (DES)ENCONTRO

E andamos, então nos fomos a passos
Era estrada estranha, um clarão
Era preciso ver o outro lado, o mesmo lado
A maré cheia, a manhã, a tarde, imensidão
Ponto de interrogação, olhar que se despedia
O dia indo, silêncio de catedral, rumor de céu
Trovejou... Uma nuvem escureceu, era eu
A querer chover, era você a dizer - sou sol
Não sei voar, mas sei raiar e raio -
De soslaio olho, num ensaio, te abraço
Num cansaço de dois, água benta
Tinge a garganta, amido na palha
Um cozido ou coisa que o valha, um sono
Sem abandono e o dia cai, abrevia o tempo
Temos pouco mais que horas, uma madrugada
E andamos, então nos vamos a passos
A noite não terá mesmo fim, enfim
Ficaremos a andar nela rumo ao tudo
A hora perpetuada... na alma marcada
O nada é muito mais, sem despedida
Uma ida, uma vinda, outra vida
Saudemos a crença no impossível
E a grandeza do nada.

Luiz Teixeira - 2009

...COM POESIA.

...e ela era a própria, e foi-se.
E como uma foice cortou raiz e palavras
E a poesia que era escrava meretriz, libertou-se
E saiu a procura de outras aladas rimas
E está na esquina à espera de outro verso
Ou de um avesso, pois para um novo traço
Só é preciso um começo...

(Luiz Teixeira 2007)


HORAS VAGAS

... Quando o vazio das horas adormece nos vãos das escadas,
Sem vontade de ser tempo,
A poesia então até a pouco distraída, incandesce, se mexe...
Sou eu a contar minha sede de vida em horas vagas
Numa casa abandonada de uma rua sem saída...
Insanos enganos num relógio de parede
Ainda agora parado a mercê da minha mão.
A corda que puxo, acorda o tempo e é novo...
O labirinto acima da escada... Pode ser tudo...
Pode ser nada... Ou apenas as penas de outra hora vaga...


(LuizTeixeira 2009)



RISCOS AO ACASO

...num traçado mudo, a pena tangencia
nas dobras do papel em branco, titubeia
e com risco mínimo se enrosca na linha
num desenho raso como um fio de veia...



...e nesse flerte insone da palavra e do vazio
cravam-se gotas tinturadas de um desejo lasso
de tornar verdade um inumano passo, num fio
desenhar a vida brotada da mão, num traço...


(LuizTeixeira 2009)




SAUDADE

Enquanto o meu tempo se esvai
Meu rosto se contrai
Em lágrimas de saudade
Não há você na minha tarde
Só há nessa rua uma vontade
Onde o tempo se distrai


Eu quero de volta a noite eterna
Onde o luar pela janela
Clareava seu olhar dizendo sim

E sua boca em meu pescoço
Atiçava minha vontade de moço
Lábios vermelhos de carmim


Escuto a palavra repetida
Nos vazios da ausência , uma ferida
Sangra uma saudade que corta, deixa
Entreaberta a porta de saída, uma queixa
Espero sua volta
Como a noite espera a estrela
Escurece só pra tê-la
Anoitece só pra vê-la
A brilhar na madrugada
Um rastro de luz, uma toada
Adormece o coração, uma ilusão
O silêncio da noite corta
Num rascunho de imaginação
É você batendo à porta...


(Luiz Teixeira 2009)

SOLIDÃO ALADA

...que horas eram aquelas?
horas estranhas, não lembro,
seria agosto ou setembro?
sei que havia uma andorinha ali sozinha.
Seria verão? Não, acho que não.
era só uma ave como eu
a procura da solidão...

Luiz Teixeira 2009



domingo, 21 de junho de 2009



A NOITE AVANÇA FEROZ EM NOSSA DIREÇÃO

Enquanto vago nesse deserto de tudo
Não esqueço nossa solidão compartilhada
E em minhas mãos ainda queima sua pele
Que se enrosca em mim na noite inacabada
E ao suave toque da minha paixão insana
Enfrento a tortura de uma frase não terminada

E a noite avança feroz em nossa direção...

Então te vejo agora num vestido esfuziante
Vestida para mim com a tônica cor da paixão
E você me busca nessa frenética loucura
E aproxima teu desespero da minha erudição
E então nos revelamos um nesse momento
Mesmo que nos saibamos dois nesse salão

E a noite avança feroz em nossa direção...

E bailamos então entre as nossas incertezas
Certos que o que temos agora é nossa verdade
Que sabemos está ancorada no que dissemos
Mas muito mais na doçura da nossa fragilidade
Pois somos únicos nessa vontade escondida
Cruzando a noite num barco pasmo de eternidade

E a noite avança feroz em nossa direção...

Então quando tudo em nós dois faz sentido
E estamos com os dois pés nessa embarcação
Por um instante ao menos acreditamos nessa lenda
Voamos para um amor além da nossa imaginação
Eu tenho em você um mistério que me instiga
E você tem em mim um poema sem solução

E a noite avança feroz em nossa direção...

Sei que vou lembrar de tudo hoje e sempre
Do tudo que fomos nessa noite sem medo
Espero te ver no sonho de todos os outros dias
Nas claridades dos luares de outro enredo
Pianar seu corpo entre o sonho e a realidade
Num dedilhar de ilusão com a ponta dos dedos

E tudo perde o sentido quando essa simples verdade diz não
E a noite... Ah, a noite avança feroz em nossa direção...






(Luiz Teixeira) 2007

quinta-feira, 18 de junho de 2009



UMA SAUDADE ERRANTE (Casablanca)

Se pudesse lhe causar impressão
Ao seu coração mansamente falaria
Das noites em Andaluzia
De um tango dançado em El Caminito
Das lutas na Espanha de Franco
De um traço inacabado em O Grito
Das minhas misturas de alquimia.

Dissertaria sobre os livros de Cervantes
Sobre o meu céu e o Inferno de Dante
Sobre minha amizade com Guevara
Falaria da viagem a Atlântida
Do Kama Sutra e sexo Tântrico
Das maravilhas da física Quântica
Da minha primeira e última guerra.

Diria com a certeza dos astrônomos
Das minhas viagens pelo cosmos,
Das minhas lutas e bandeiras
Na pátria brasileira, campo e cidade
Dos operários irmanados em cada esquina
Dos estudantes da nossa universal idade
Da luta cotidiana de toda a América Latina.

Contaria da guerra que abracei com Fidel
De Sierra Maestra a Havana, avante
Do meu dueto de cantante com Gardel
Soprar-te-ia segredos de amantes
Das telas de cinema para minha cama
Da noite inesquecível com a primeira dama
Da minha rua, do meu dia, Rapunzel.

Relataria o prazer de cruzar o oceano
Nas asas de um Pelicano ver a África
Ver um dia nascer na Antártida
Ver outro dia morrer no Mar Egeu
Rezar de joelhos no Vaticano
Ter a fé de um Cristão no Coliseu
Olhar para Meca todos os dias do ano.

Lembraria de todos os livros que li e escrevi
Das minhas prosas e versos com Quintana
Da Primavera que estive em Praga
Do poema para a imperatriz, Ana
Do dilema de ver Roma em Chamas
De ser o último da Resistência quando a luz apaga
Na Casa dos Espíritos o último drama.

Mas não quero impressioná-la
Por isso direi uma pequena verdade
Sou somente um rasgo de saudade
Que abandonou Cleópatra no altar
E sentou-se para um drink no Rick,s
Num papo eterno com Bogart
Numa Casablanca de insanidade
Deserta, como os alhares da alma a esperar
Numa noite eterna pela presença de Gilda
Olhando a porta que jamais se abrirá...
(Luiz Teixeira - 2007)

sexta-feira, 12 de junho de 2009










UM BRINDE A BOGART (Os desertos de sempre)


...as reticências das minhas frases especulam curvas de vida no dia quando são tangências que percorrem retas inertes rumo ao anoitecer, onde me alimento de espera e ansiedades terrenas e também onde amolo minhas garras para soltar amarras e renascer...
...são os desertos de sempre a selar distâncias entre o que sinto quando nada vejo... é tato, quando toco uma nuvem de reminiscências para acobertar a falência dos meus amores de fato. Prosaico mosaico de eternidades. Singelezas sutis num emaranhado de vontades, meias verdades e uma bruma de incertezas...uma vida...navalha cortante nas ladainhas das obviedades...
minha vida...

...nada onde adormeço faz a noite mais veloz e sou meu próprio algoz nas lágrimas desse terço.
...um brinde aos que soltam as mãos e se desprendem da vontade de amar e criam asas nas levezas da solidão e incendeiam seus corpos de luar...
...um brinde a quem ousa ter saudade... é o que sempre falta para os amores serem mais que um traço cego de vontades iguais dentro de um cálice trincado de eternidades...
...minhas reticências são eternas curvas envolventes em qualquer desses dias, nesses desertos de sempre...
(Luiz Teixeira 2008)












...dos amores impossíveis.



poesias




PINÓQUIO DE PANO


A boneca de vestido amarelo, singelo
Enrosca o braço num laço de fita
Se agita no vento com sorriso eterno, dança
Pra criança que aponta o dedo e palpita
A boneca balança um compasso sem tempo
Por um momento se faz feia e sem cor
Semblante de dor carrega tristeza, espia
A lenta agonia de não mais ver seu amor

Na banca em frente um monte de gente
Cerca de afagos um boneco de pano
Que por seus desenganos já não ousa sorrir
Quando mentir para tantos já causou muitos danos
Perdido na sua infinita infância
Como criança que só olha para o céu
Ao Léo não vê a boneca que implora
A qualquer hora por um olhar que é só seu

O vai e vem entre a noite e o dia
Na conversa de vender e comprar
A boneca quer ficar para viver
O boneco quer viver para sonhar
Seus olhares nunca se encontram
Ele não sabe que ela mais quer
Abraçar seu veludo pescoço
Nesse alvoroço ser sua mulher

O sonho se faz entre os corredores da feira
E a boneca faceira terminou mais um dia
Na alegria que abraça a solidão que espera
Por uma quimera de amor que o tecido arrepia
Por um instante instigante se faz elegante,
Vestida esvoaçante de amor parece voar
Quer ir de encontro ao seu sonhado carinho
Mas sabe que é de espinho seu eterno sonhar

Pois o boneco triste sem vontade de sonhos
Só quer mesmo tristonho tentar ser feliz
Está com a alma de menino tisnada,
Arrancada, extirpada sem deixar cicatriz
Ela sabe que ele foi feito de cerne
Menino solto no mundo sem dono
Está só num templo de seres estranhos
Sem alma nada mais é que um Pinóquio de pano

Mas mesmo assim ela ama, oh... ela ama
Sua alma de retalho de pano, inquieta
E ele ama sem ela saber
Sua vontade de não ser mais, uma boneca. Uma boneca...


(Luiz Teixeira 2008)



PASSARELA

Há um mundo inteiro para talhar, esculpir
Sob um sol torrente num abajur multicor
A lua deitada numa varanda, de abril
Num baú perfumado de pinho, o amor
Os olhares da festa, serão só estrelas
De tecido florido, as cortinas do tempo
As saudades guardadas num porta jóias
E os amores num cachecol... De vento

Soprarão nos agudos apitos das fábricas,
Uma canção flauteada brincando no ar,
A palavra não será mais uma lei trágica,
Nas caixas de música, a brisa do mar
E na alma um lamento fala em magia
Escondendo a noite num porta retrato
Uma tela pintada cada hora do dia
E o sonho sempre mais... Belo que o fato


E nos sachês teu perfume odoriza
Os colares de crenças que despertam paixão
Na brisa mansa que envolve teu corpo bordado
Um pouco do louco que te sonha com as mãos
E desenha no ar um mundo encantado
De um jeito que só o tempo eterniza
Vela acesa na solidão ruidosa do artista
Que enjaula o tempo num... Amor tatuado

E quando de novo tudo amanhece tristeza
Afiamos navalha da fé no vento que vai
Transformar em amor nossas mudas fraquezas
Em anjos, as bruxas dos eternos quintais
E seremos dois na estátua de bronze
E seremos um no traço de tinta aquarela
Lambuzados na cegueira fina e constante
Que cria e recria a vida... Numa passarela

E eu andarei pelas nuvens
costurando o destino
Catando o rastro que envolve
tudo que você deixou
Nas paredes do mundo
um painel com seu nome
No barco parado na estante
aquele olhar ancorou

Na passarela do tempo ainda desfila
Uma noite que não terminou...


(LuizTeixeira 2008)




SOLIDÃO DA PRINCESA

...que estranheza, uma aspereza
No véu da princesa, uma incerteza
E junto a vela acesa entre tantas sobre a mesa,
A razão dessa reza:
Uma missiva expressiva, diz adeus taxativa
Não há razão nem ilusão,
Nem sim nem não, um vão, e então
O pranto que é tanto
E enobrece mais o seu encanto, é portanto
Mais nobre, metal ocre,
Véu de céu que sobre a face cobre
Um desgosto de setembro a agosto, um rosto
Uma saudade sem idade,
Pra sempre, um clarão
De imensidão, uma porta que aporta
O tempo, num porto ancorado,
Eternidade.
Na casa que abraça, a brasa consome
Sem nome o tempo que insone
Vai além das paredes, tem sede
Devora, o dia, a hora
Só resta a fresta da dor, intocável
A solidão dilacera sem espera
Inexpugnável, reside suave
Nos corredores do castelo
Entre a vida e a vontade
De vida, é elo... É elo.


(LuizTeixeira 2009)






dos olhares que hoje chamo de saudade

poesias


CAMINHOS DE ONTEM

...meus pés descalços calçavam a lama dos caminhos
e então eu perdia meus sapatos de barro em cada poça...
eu era um príncipe descalço numa infância que inventei,
mas a história sempre acabava bem...

...nas ruas que ficaram no tempo,
um tempo inventado
nas defesas dos castelos onde sempre fui rei
e nas batalhas contra os inimigos alados,
invencíveis eu sei
desenhei nos caminhos da aldeia um novo traçado...

...reinventei a vida a cada dia
e olhando um rio
meu veleiro de imaginação se foi dali ao mar
singrei a imensidão de qualquer universo
naquele navio
timoneiro de sonhos num reino de poeira e luar...

...em minhas mãos as rédeas do tempo
o tempo todo sem dono
em cada manhã uma nova conquista para esse reinado de invento
nas copas das árvores uma casa inquieta
livre de abandono
olhando um conquistador de sonhos nas dobras do vento...

...me fiz homem nesse caminhos infinitos estreitos
feito um arcabouço de quimeras
numa rua de ontem amarelecida nas beiradas da vida
vozes e terços nas romarias que brindam a alegria
quando tudo é primavera
velas que se apagam agora nessa rua esquecida...

(Luiz Teixeira 2007)


INFINITAMENTE


A VIDA

Nas janelas da minha infância
Havia lágrimas, risos, paixão e dor
Havia alma, havia gente
Enquanto a vida tocava em frente
Sem presságios
Sem mágica
Descobri pasmo
Que aquelas janelas lógicas
Eram os olhos da vida me olhando,
Para sempre.

(Luiz Teixeira 2007)












Seguidores

...aos que aqui passeiam...

...bem vindos aos meus dias e aos meus olhares paralelos sobre a vida, e a singeleza de viver...