quinta-feira, 18 de junho de 2009



UMA SAUDADE ERRANTE (Casablanca)

Se pudesse lhe causar impressão
Ao seu coração mansamente falaria
Das noites em Andaluzia
De um tango dançado em El Caminito
Das lutas na Espanha de Franco
De um traço inacabado em O Grito
Das minhas misturas de alquimia.

Dissertaria sobre os livros de Cervantes
Sobre o meu céu e o Inferno de Dante
Sobre minha amizade com Guevara
Falaria da viagem a Atlântida
Do Kama Sutra e sexo Tântrico
Das maravilhas da física Quântica
Da minha primeira e última guerra.

Diria com a certeza dos astrônomos
Das minhas viagens pelo cosmos,
Das minhas lutas e bandeiras
Na pátria brasileira, campo e cidade
Dos operários irmanados em cada esquina
Dos estudantes da nossa universal idade
Da luta cotidiana de toda a América Latina.

Contaria da guerra que abracei com Fidel
De Sierra Maestra a Havana, avante
Do meu dueto de cantante com Gardel
Soprar-te-ia segredos de amantes
Das telas de cinema para minha cama
Da noite inesquecível com a primeira dama
Da minha rua, do meu dia, Rapunzel.

Relataria o prazer de cruzar o oceano
Nas asas de um Pelicano ver a África
Ver um dia nascer na Antártida
Ver outro dia morrer no Mar Egeu
Rezar de joelhos no Vaticano
Ter a fé de um Cristão no Coliseu
Olhar para Meca todos os dias do ano.

Lembraria de todos os livros que li e escrevi
Das minhas prosas e versos com Quintana
Da Primavera que estive em Praga
Do poema para a imperatriz, Ana
Do dilema de ver Roma em Chamas
De ser o último da Resistência quando a luz apaga
Na Casa dos Espíritos o último drama.

Mas não quero impressioná-la
Por isso direi uma pequena verdade
Sou somente um rasgo de saudade
Que abandonou Cleópatra no altar
E sentou-se para um drink no Rick,s
Num papo eterno com Bogart
Numa Casablanca de insanidade
Deserta, como os alhares da alma a esperar
Numa noite eterna pela presença de Gilda
Olhando a porta que jamais se abrirá...
(Luiz Teixeira - 2007)

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